quarta-feira, 7 de abril de 2010

Sting é jazz e é pop!

Dizer que o mundo da música pop é bobagem nada mais é do que proferir outra bobagem. No pop, tudo é possível. Um exemplo de alta qualidade nesse campo é o disco de Sting "Bring on the night", gravado ao vivo e lançado em 1986 (CD em 1996). Compositor, cantor e baixista, Sting surgiu no final dos anos 1970 com o trio The Police, importante na cena pós-punk inglesa por misturar ska e reggae com rock. Mas, o percurso de sucesso não foi longo. Em 1984, a banda se desfez e cada um seguiu seu caminho.
Sting consolidou importante carreira, sobretudo pelo início com o belo disco "The dream of the blue turtles", em 1985. Neste trabalho, o cantor deixou o baixo de lado e chamou quatro destacados músicos de jazz. O baterista era Omar Hakim, do grupo Weather Report e que conhecia o mundo pop por ter gravado o LP "Let’s dance", de David Bowie, de 1983. O baixista era Darryl Jones, que tocara com o grande mestre Miles Davis. No saxofone, nada menos do que Branford Marsalis, que acompanhara Miles, Dizzie Gillespie e Art Blakey. O homem dos teclados era Kenny Kirkland, que também havia tocado com Dizzie. Por fim, as experientes Janice Pendarvis e Dolette M’Donald faziam os vocais.
Nesse primeiro disco solo, além de juntar ótimas figuras do jazz, Sting apurou as composições, em especial as letras. Nelas, questões sociais ("Children’s crusade"), políticas ("We work the black seam") e amorosas ("Consider me gone" e "Moon over Bourbon Street") são muito bem tratadas.
Porém, o mais interessante fica para o trabalho seguinte, o LP duplo "Bring on the night", no qual está registrada a turnê européia desse time de músicos. Aqui, composições novas estão misturadas às antigas da época do The Police, como "Demolition man", "Driven to tears", "Tea in the Sahara", com novos arranjos.
Ao vivo, as canções ganham outro sabor. A base coesa de Hakim e Jones sustenta com suingue os improvisos de Marsalis e Kirkland. Um exemplo é a faixa de abertura, um medley de "Bring on the night" (antiga composição de antes do The Police) e "When the world is running down you made the best of what’s still around" em que o pianista faz um solo veloz, melódico e, ao mesmo tempo, cheio de cromatismos e dissonâncias que alteram a harmonia original. Os solos de Branford Marsalis no sax soprano são um capítulo à parte e aparecem em "Driven to tears" sobre uma base soul muito suingada e, com destaque, em "Children’s crusade". A penúltima faixa, o blues "Down so long", é prato cheio para ambos brincarem à vontade.
No campo vocal, Janice e Dolette dialogam sutilmente nos arranjos com a voz aguda do cantor e com as frases do sax dando colorido especial às melodias.
"Bring on the night" é disco que não se para de ouvir e não é datado. Tem balanço para dançar, letras para reflexão, música bem construída, improvisos delirantes e climas sonoros para devaneios. Imaginem assistir ao DVD do show!

Publicado também em www.entermagazine.com.br

Um comentário: