Dentre os elementos que caracterizam o rock, o solo de guitarra é um dos que mais se destaca. Desde Bill Haley até as versões atuais, a performance do guitarrista, o formato do instrumento, os timbres e efeitos usados e as melodias marcam a alma do gênero. O solo de guitarra é um dos pontos altos da música, tanto que os ouvintes esperam ansiosos por sua chegada e aumentam o volume quando o músico executa as primeiras notas. É quase o cartão de visitas, já que a banda pode ser reconhecida pelo timbre ou pelo desenho melódico usados pelo guitarrista.
A empatia do público chega inclusive aos movimentos corporais do músico que empunha essa espécie de cetro mágico para orientar o ritual sonoro e visual do show. Quando reconhecido, a performance vira expressão artística dentro rock e marca de identidade dos músicos.
A prova da força dessa performance está nos campeonatos de air guitar, concursos de pessoas que criam com gestos um suposto guitarrista de rock tocando, porém, sem o instrumento em mãos. Pode parecer absurdo e esquizofrênico, mas há vencedores escolhidos por um júri que avalia a melhor performance instrumental num palco com luzes, play back e sem a guitarra!
Em agosto de 2009, na 14ª edição (acredite, houve 13 anteriores!) do Air Guitar World Championship, na Finlândia, um francês chamado Sylvain Günther Love Quimene foi o grande vencedor. Curioso é que os premiados não precisam, necessariamente, saber tocar. Aliás, os participantes desse festival devem ser exatamente aqueles que não conhecem nada de música. No entanto, numa aparente contradição, têm a rara sensibilidade de traduzir nos trejeitos corporais toda a intensidade e a gama de respostas físicas que o som provoca num músico real. Acabam se igualando aos músicos sem o serem realmente.
Não se trata de mera cópia, como se o “instrumentista” tentasse imitar a apresentação de seu guitarrista preferido. Não temos aqui nenhum tipo de elogio a este ou aquele guitar hero, alvo de real idolatria pela exuberância de sua técnica. O que vale é a atuação desse “músico” como um performático do rock no palco sob o registro de câmeras e olhares do público ávido pelo espetáculo corporal travestido de mentira.
Apesar da aparente falsidade, o que se vê ali não é exatamente mentira ou algum tipo barato de cover. Simplesmente, o fulano está sendo sincero em reproduzir a expressão pura do guitarrista. Ali está uma das essências dessa música: um corpo no ar quase sem limites adaptado virtualmente ao instrumento que melhor caracteriza o gênero e sua cultura. Parece estranho, mas assistir às apresentações postadas no You Tube, de certa forma, chega a empolgar tanto que o tal músico virtual passa a encantar nossos olhos quase da mesma forma que nossos ouvidos são agraciados pelo som.
Sim, claro, é coisa de maluco. Mas, atire a primeira pedra quem for normal ouvindo rock!
Publicado, com adaptações, em setembro de 2009 em www.entermagazine.com.br
Já que música e canção são assuntos sérios, este é um espaço para discutir os sons das coisas musicais. Podem ser cantados, tocados, dançados ou ouvidos. Podem também ser altos ou baixos, daqui ou de longe. Não há problema se forem amargos, doces demais ou organizados sob outra lógica. Precisam apenas ser apreciáveis de determinado jeito, entendidos e explicados para que tenham sua beleza revelada. Em suma, é "o som da coisa"!
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segunda-feira, 1 de março de 2010
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010
Os clássicos solos de guitarra
O solo de guitarra é uma das principais partes que se ouve em um rock. O instrumento, sua empunhadura e seus timbres parecem representar todo o conceito que define esse gênero e sua história. Nada contra baixos, teclados, sopros e baterias. Quero dizer que, da mesma forma que violino e piano são a cara da música erudita, violão e pandeiro são a imagem do samba e um bandoneon é a alma do tango, a guitarra simboliza completamente o rock. E, numa música, seu solo é momento sublime e expressivo do guitarrista, quando demonstra técnica e sensibilidade melódica em relação aos outros elementos que compõem a música.
Por isso, penso em quais seriam os solos mais importantes da história do rock, aqueles que identificam uma música mais até que a letra ou a voz do cantor. Por exemplo, nas origens do gênero, imagine ouvir "Roll over Beethoven", de 1956, sem o solo de Chuck Berry e sua performance sobre uma perna dobrada e outra esticada à frente? Sem isso, essa música simplesmente não existiria!
Entre os anos 60 e 70, estão os exemplos clássicos. Não há como não citar os solos de Jimi Hendrix em "Purple Haze", do “deus” Eric Clapton em "Cocaine", de Ritchie Blackmore em "Smoke on the Water", de Brian May, do grupo Queen, em "Bohemian Rhapsody", de Jimmy Page na delicada "Starway to Heaven", imortalizado nas imagens do filme "The Song remains de Same", de 1976 (os shows eram de 1973), ou no dueto das guitarras de Don Felder e Joe Walsh em "Hotel California", do grupo Eagles, também de 1976. Essas músicas devem muito aos seus solos e, se não fossem os guitarristas, talvez nem tivessem a mesma repercussão.
E, como não falar das melodias de David Gilmour, do Pink Floyd, em "Time", do mitológico disco The Dark Side of the Moon, e em "Comfortably Numb", do álbum The Wall? Também não dá pra esquecer os solos de Carlos Santana na suingada "Black Magic Woman" e na melodiosa "Europe".
Nos anos 80, há os “guitar heros”, título que indica técnica, timbre e velocidade de instrumentistas como Ed Van Halen (ouça "Jump", por exemplo) e Steve Vai ("For the Love of God" é representativa). Mas existem os que mantêm a energia do volume e da distorção, como no solo de Angus Young, do australiano AC/DC, em "Back in Black", ou no de Slash, do Guns N’Roses, na música "Sweet Child O’Mine".
Até mesmo no rock brazuca, há solos de fantásticos músicos, como o arranjo melódico das guitarras de Sergio Hinds na progressiva "1974", do grupo O Terço, ou a linguagem musical brasileira de um Pepeu Gomes, em "Malacaxeta". Da mesma forma, é impossível desconectar o sucesso de "Ovelha Negra", cantado por Rita Lee, do solo de Luiz Carlini. E o que dizer de "Bete Balanço" sem o som do jovem Roberto Frejat?
A lista certamente é grande e devo ter cometido algum esquecimento. Alguém sugere outros solos inconfundíveis e clássicos na história do rock?
(Publicado, com pequenas modificações, em outubro de 2009 no site www.entermagazine.com.br)
Por isso, penso em quais seriam os solos mais importantes da história do rock, aqueles que identificam uma música mais até que a letra ou a voz do cantor. Por exemplo, nas origens do gênero, imagine ouvir "Roll over Beethoven", de 1956, sem o solo de Chuck Berry e sua performance sobre uma perna dobrada e outra esticada à frente? Sem isso, essa música simplesmente não existiria!
Entre os anos 60 e 70, estão os exemplos clássicos. Não há como não citar os solos de Jimi Hendrix em "Purple Haze", do “deus” Eric Clapton em "Cocaine", de Ritchie Blackmore em "Smoke on the Water", de Brian May, do grupo Queen, em "Bohemian Rhapsody", de Jimmy Page na delicada "Starway to Heaven", imortalizado nas imagens do filme "The Song remains de Same", de 1976 (os shows eram de 1973), ou no dueto das guitarras de Don Felder e Joe Walsh em "Hotel California", do grupo Eagles, também de 1976. Essas músicas devem muito aos seus solos e, se não fossem os guitarristas, talvez nem tivessem a mesma repercussão.
E, como não falar das melodias de David Gilmour, do Pink Floyd, em "Time", do mitológico disco The Dark Side of the Moon, e em "Comfortably Numb", do álbum The Wall? Também não dá pra esquecer os solos de Carlos Santana na suingada "Black Magic Woman" e na melodiosa "Europe".
Nos anos 80, há os “guitar heros”, título que indica técnica, timbre e velocidade de instrumentistas como Ed Van Halen (ouça "Jump", por exemplo) e Steve Vai ("For the Love of God" é representativa). Mas existem os que mantêm a energia do volume e da distorção, como no solo de Angus Young, do australiano AC/DC, em "Back in Black", ou no de Slash, do Guns N’Roses, na música "Sweet Child O’Mine".
Até mesmo no rock brazuca, há solos de fantásticos músicos, como o arranjo melódico das guitarras de Sergio Hinds na progressiva "1974", do grupo O Terço, ou a linguagem musical brasileira de um Pepeu Gomes, em "Malacaxeta". Da mesma forma, é impossível desconectar o sucesso de "Ovelha Negra", cantado por Rita Lee, do solo de Luiz Carlini. E o que dizer de "Bete Balanço" sem o som do jovem Roberto Frejat?
A lista certamente é grande e devo ter cometido algum esquecimento. Alguém sugere outros solos inconfundíveis e clássicos na história do rock?
(Publicado, com pequenas modificações, em outubro de 2009 no site www.entermagazine.com.br)
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