quinta-feira, 19 de maio de 2011

Cantores do rádio no cinema

Era final de 1935. Num ônibus na cidade do Rio de Janeiro, sem dinheiro para pagar a passagem por terem gasto tudo no Cassino da Urca, três compositores ensaiavam criar uma canção para convencer o motorista a liberá-los de graça. Apesar de ter sido criada nessa delicada situação, a composição fez parte do filme Alô, alô, carnaval, dirigido por Adhemar Gonzaga e produzido pela Waldow-Cinédia, um consórcio entre o produtor Wallace Downey, americano radicado em São Paulo, e a famosa produtora carioca de Adhemar. Lançado no Rio em janeiro de 1936, foi um grande sucesso de bilheteria.
Os três do ônibus eram: Lamartine Babo, famoso compositor de marchinhas de carnaval e de hinos dos clubes cariocas de futebol; Braguinha, conhecido também como João de Barro, outro criador de sucessos; e o médico e boêmio Alberto Ribeiro. A canção foi uma das marchinhas mais tocadas e gravadas na história da música popular brasileira: Cantores do rádio.
Braguinha e Ribeiro haviam feito o argumento do filme: passado num cassino, dois autores de teatro queriam convencer um rico empresário a patrocinar a montagem de uma revista (espécie de teatro musical), objetivo realizado ao final da fita. Esse padrão temático foi comum no cinema musical brasileiro, pois dava chance de colocar números musicais no meio da história, lembrando que o cinema sonoro havia chegado ao país cinco ou seis anos antes.
Alô, alô, carnaval levou à tela os principais intérpretes da época para cantarem sucessos da música carioca que tocavam nas rádios. Por isso, o trio colocou na canção a folia do carnaval, que aparece no ritmo alegre da marchinha e na letra que diz: “Canto para te ver mais contente / Pois a ventura dos outros / É a alegria da gente”. Na letra, aparece também o rádio, veículo que se popularizava bastante desde o início daquela década transformando os cantores nos primeiros ídolos da música brasileira. Finalmente, essa e outras canções levadas aos filmes faziam com que galãs e divas, conhecidos apenas pelas vozes, fossem finalmente vistos de corpo inteiro. Neste caso, as intérpretes de Cantores do rádio no filme eram as irmãs Carmen e Aurora Miranda.

A importância crescente do rádio no cotidiano do povo está marcada na letra: “De noite embalamos teu sono / De manhã nós vamos te acordar”. Mais ainda, mostra que este veículo ultrapassava as fronteiras das cidades e levava música e alegria para todo o Brasil: “Nossas canções, cruzando um espaço azul / Vão reunindo num grande abraço / Corações de norte a sul”. Não é à toa que o governo de Getúlio Vargas usaria, principalmente, o rádio como eficiente ferramenta de controle social a partir do período.
Ia me esquecendo do que ocorreu no ônibus. Como disse o próprio Braguinha, “o motorista aderiu à cantoria e acabou dispensando o pagamento das passagens...” (citado pelo pesquisador Jairo Severiano no livro Yes, nós temos Braguinha).

Nenhum comentário:

Postar um comentário