segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Os "instrumentos" do Vocal Sampling

Há músicos que dedicam anos de suas carreiras em aperfeiçoar a execução de um instrumento musical. Tocam, experimentam, desdobram-se em métodos e estudos para retirar dele todas as sonoridades que imaginam poder produzir. Alguns desses músicos interagem tão fortemente com seus instrumentos que ambos parecem ser uma coisa só, tamanha intimidade que constroem.
Há, porém, aqueles que, sem instrumentos musicais, criam com estupenda perfeição harmônica, rítmica e melódica. Se eu disse sem instrumentos, retifico: eles podem usar a própria voz e o próprio corpo. Refiro-me, especificamente, ao grupo vocal cubano Vocal Sampling, formado por seis cantores que arranjam e cantam músicas a cappella, expressão em italiano que indica canto sem acompanhamento instrumental. Alguns do grupo cantam a letra da canção enquanto os outros fazem a harmonia, reproduzem com a voz instrumentos de sopro (trompete, saxofone etc.), percussões (bongô, tumbadoras, claves etc.) e ainda trabalham o som corporal (palmas, ruídos com a boca, batidas no corpo com as mãos etc.).
O grupo foi criado por estudantes da Escola Nacional Superior de Arte de Havana em 1992 e, hoje, é formado por René Baños Pascual (regente), Abel Sanabria Padrón (percussão), Reinaldo Sanler Maseda (tenor), Jorge Núñez Chaviano (tenor), Renato Mora Espinosa (tenor) e Oscar Porro Jiménez (barítono). O sucesso cresceu durante a década de 1990 até chegar aos ouvidos do cantor de jazz Bobby McFerrin e de outros do pop, como Peter Gabriel, David Byrne, Carlos Santana, Paul Simon e Quincy Jones, que adoraram o trabalho dos cubanos. Em 1995, fizeram uma turnê pelos EUA e, em 1996, participaram do 30º Festival de Jazz de Montreux, Suíça. Depois vieram outras apresentações no Japão, na Europa, nos EUA e América Latina, sempre com destaque da crítica.
Ouvir a música do Vocal Sampling é uma fantástica experiência. Cada instrumento que imaginamos ter em uma canção está ali nas vozes de cada um deles. E não basta afinação. É preciso ter um absoluto controle do ritmo e grande organização harmônica das vozes. Como cubanos, conhecem a fundo a alma dos gêneros da ilha: rumba, son, bolero, guaracha e salsa. Um exemplo é o arranjo para Guantanamera, um clássico da música da ilha.

O corpo de cada um deles se transforma nas performances ao vivo. A apresentação de Hotel Califórnia, gravado pelo Eagles em 1976, é outro exemplo. No arranjo, os músicos-cantores reproduzem instrumentos do rock (em especial, a bateria, com pratos, caixa e ton-tons) e o famoso solo de guitarras em dueto, com direito a air guitar.

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