domingo, 1 de abril de 2012

Os Móveis de Brasília

Se você pensa que a música de Brasília se resume aos grupos de rock dos anos 1980, está muito enganado. A capital é berço de uma das principais bandas alternativas do momento, com canções bem feitas, shows lotados e performance de palco contagiante. Falo do Móveis Coloniais de Acaju.
A turma surgiu em 1998 fazendo festas e bailes na cidade. O trabalho foi crescendo até tocarem em outros lugares e gravarem, em 2004, o primeiro CD – Idem – em regime independente, lançado no ano seguinte. Depois de muitos festivais pelo Brasil e de uma turnê pela Europa, gravaram na Trama seu segundo disco, com produção do conhecido Carlos Eduardo Miranda. O CD c_mpl_te (complete), lançado em 2009, foi muito bem recebido e tem sido base das apresentações da banda.
Aliás, um dos segredos do sucesso dos 9 músicos (!) é a atuação ao vivo. Sem coreografias ensaiadas, sem foco único, mas cheio de brincadeiras, sorrisos e conversas, o público se diverte dançando e cantando, o que revela relação mais franca com a plateia. Pelo menos foi o que vi num show recente em São Paulo. Um momento interessante foi quando, quase ao final, o vocalista André González pede para as pessoas no teatro (lotado) deixarem o meio da plateia livre e ficarem nos lados e ao fundo. Quando o espaço se abriu, os músicos desceram, tocaram e cantaram rodeados por todos numa comunhão difícil de ver.
Quanto à música, o repertório gira em torno do ska, rítmico jamaicano dançante. Mas, no ska do Móveis há citações do rock e da música brasileira, o que deixa o grupo muito mais perto da tradição de misturas da cultura musical nacional.
Nesse segundo disco, é possível ouvir bem arranjos e letras, ambos de ótima qualidade. No som, a base rítmica da “cozinha” (baixo e bateria) sustenta com firmeza e suingue a guitarra, os teclados e os fraseados de quatro instrumentos de sopro: flauta, sax tenor, sax barítono e trombone. Nas vozes, além do coro, ouvimos um cantor sincero e sem afetação. Nas letras, o tema do amor é recorrente, mas tratado com inteligência e criatividade, longe dos lugares comuns ouvidos por aí.
A faixa O Tempo, do segundo CD, é das mais interessantes. Não apenas pela canção em si, mas também pelo clipe produzido para ela. O filme foi todo feito em plano-sequência (uma câmera filmando sem cortes), gravado e transmitido ao vivo pela internet com interação com o público e a participação dos grafiteiros do KollorsKingz. O objetivo do diretor Steve ePonto era trabalhar noções de tempo com câmera acelerada enquanto os músicos cantavam e dançavam atrás de um vidro sendo grafitado. (Ver abaixo.)
Móveis Coloniais de Acaju é desses raros casos de boa música e performance autêntica, longe das bizarrices do pop mais açucarado. Além disso, é exemplo de gerenciamento próprio de uma banda-empresa, pitacos de gravadora.

Um comentário:

  1. Conheci essa música no cinema (?). Entrei em uma sessão que estava com problema no projetor, e quando travava tocava essa música repetidamente.

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