segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O parque heterodoxo do Baleiro

O primeiro disco de Zeca Baleiro (Por onde andará Stephen Fry?, de 1997) tem faixas interessantes e reveladoras da criatividade desse compositor maranhense que sempre adorou comer doces, balas e guloseimas. Merecem destaque Stephen Fry, Heavy metal do Senhor, Flor da pele, Salão de beleza e o pagode Kid Vinil. Mas, além dessas, uma chama a atenção pelo insólito dos arranjos e da letra: O parque de Juraci, criada pelo próprio compositor e por ele denominada um “tecnoxaxado”.
A letra fala do convite feito por Juraci para um passeio em um parque. Porém, para espanto do convidado, ao chegar ao tal lugar, percebe que é um simples restaurante self-service por quilo. Por mais que já pareça insólita a situação, a maneira de descrevê-la é fundamental: “Já no caminho eu comi um churrasquinho de charque / E um suco de sapoti / E foi ficando divertido pra caramba / Juraci dançando samba enquanto eu lia O Guarani”. Com a revelação absurda, sua reação vai do choque ao ódio: “Juraci que parque / Juraci que parque / Juraci que parque é esse que eu nunca vi / Juraci que parque / Juraci que parque / Juro por deus que quebrei o pau com Juraci”.
O desapontamento do personagem com a tal mulher é claro e isso é trazido para a letra cantada. Os encaixes entre as palavras no canto e o ritmo sincopado fazem com que algumas frases tenham forte apelo rítmico e tom lúdico, como é típico das cantorias nordestinas, como na embolada, por exemplo. Aqui, observamos a profusão de rimas em “i” (sapoti, Birigui, Guarani) e as construções em duplo sentido: quando cantado, “Juraci que parque” se transforma em “Jurassic Park”, famoso filme do diretor Steven Spielberg, a quem a canção é oferecida. Não posso afirmar, mas a letra engraçada e o tal parque da Juraci soam para mim uma crítica debochada ao absurdo do filme. Mas, isso é mera impressão...

A música é um tecnoxaxado, ou seja, um tradicional xaxado nordestino feito com modernos instrumentos eletrônicos. Assim, o surrealismo da história é acompanhado por samplers de vozes e solos de sintetizador e de uma guitarra distorcida sobre a batida de um baixo eletrônico.
Além disso tudo, Baleiro divide a cantoria com um dos grandes mestres do forró: ninguém menos do que Genival Lacerda, famoso por sucessos como Severina xique-xique. Genival canta trechos e pontua frases, às vezes engraçadas, em diálogo com o compositor.

Um comentário:

  1. Muito gostosa a música...haha. O Baleiro é realmente muito criativo. E essa eu não conhecia. Maravilha!

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