quinta-feira, 10 de novembro de 2011

O DJ e as novas colagens musicais

Nas últimas décadas, uma forma curiosa de colagem sonora tem sido utilizada, não sem muitas polêmicas. Me refiro ao trabalho dos DJs na música eletrônica e no hip-hop. Como já indiquei (post de 22/jun/2010), o DJ surgiu no contexto do rádio. Era o disc jóquei, um profissional que organizava a programação da emissora, definia o que era tocado e, principalmente, se responsabilizava pelos lançamentos.
Atualmente, esse personagem desapareceu do contexto radiofônico e migrou para as festas rave e para o hip hop, com outras funções. Agora, esse artista manipula discos, aparelhos toca-discos, mesa de mixagens e samplers, anima festas com misturas de gêneros e múltiplas citações musicais.
Alguns o qualificam como tratante. Numa coluna na revista Rolling Stone, li uma vez o que Miguel Sokol comentava sobre o DJ: “Desde quando DJ toca alguma coisa? Por mais feeling que tenham, por mais mortal que seja a acrobacia deles, o que toca é o disco. O DJ, sejamos sinceros, não faz mais do que gozar com o pau dos outros”.
De imediato, é difícil não concordar com Sokol. Ainda mais pensando nos tristes exemplos que ele cita: Boy George (que já foi de tudo na vida), Glen Matlock (baixista dos Sex Pistols que nem terminou de gravar o único disco do grupo, Never Mind the Bollocks, e foi mandado embora da banda) e Andy Rourke (um dos Smiths à sombra de Morrisey).
No entanto, a análise não pode parar por aí. Há trabalhos bem bacanas e criativos na cena eletrônica que vão num sentido contrário a esses indicados pelo autor. Um deles é o do DJ Dolores. Seu conhecimento dos ritmos tradicionais do nordeste e sua capacidade de juntar sonoridades específicas o fazem um mestre nessa área.

O mesmo é possível dizer do DJ Patife, bastante eficiente e inovador nos trabalhos com Fernanda Porto, musicista e compositora que explora com critérios os recursos da eletrônica.
DJ sério é aquele que pesquisa músicas e timbres, que grava discos de vinil com prensagem única (dubplates) identificadores de sua originalidade, que tem sensibilidade para novas misturas, que tem senso rítmico para os scratchs (ruídos rítmicos criados pelo vai-e-vem da agulha nos sulcos do vinil) e usa com destreza os infinitos recursos eletrônicos do sampler.
Este equipamento (verdadeiro totem da eletrônica) permite séries de efeitos de colagem e, por isso, a música assim produzida acaba por se fundamentar numa lógica de “pilhagem”. Ora identificando os trechos gravados de canções, ora brincando com misturas de timbres e sonoridades, o DJ é um artista eminentemente experimental que descobre soluções a partir de muitas tentativas. Sim, podemos dizer intuitivas. Da mesma forma que fazem os tais “músicos de ouvido”, de cuja intuição musical brotam ótimas composições e execuções.
A verdade é que os DJs se fundamentam na nova estética musical baseada na cada vez mais intensa mediação tecnológica digital.

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