terça-feira, 3 de maio de 2011

Colagens musicais: Beatles e tropicalismo

Colagem é um procedimento originado nas artes plásticas, em especial na vanguarda cubista. Tratava-se do uso de materiais não usuais nos quadros como papel, madeira, areia etc. para criar outras possibilidades de representação das cenas nos quadros. Mesmo que aparentemente caóticas, as colagens proporcionavam alternativas surpreendentes ao espectador sobre a visão que se tinha das coisas.
Na música popular, a técnica foi adaptada com grandes resultados. A partir de algumas inovações tecnológicas, foi possível introduzir outros sons na canção. Isso funcionou para produzir climas ou ampliar sentidos difíceis de serem percebidos apenas na letra ou no arranjo. Com a colagem, foi possível “falar” de outras coisas que não estavam inscritas direta e visivelmente na canção, apesar de trazer certo caos ao arranjo.
Nesse aspecto, o álbum Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band, de 1967, dos Beatles, é um marco. Ao usarem de forma criativa a novidade da gravação numa mesa de som com quatro canais, o grupo construiu colagens sonoras em várias músicas, misturando os sons produzidos por seus instrumentos com os de outros instrumentos e de outras fontes. São os casos da música que dá nome ao disco, com sons de palmas e gritos de uma platéia; de Being for the benefit of Mr. Kite, cujo universo circense foi recriado com ruídos e efeitos em loopings; e de Good morning, good morning, em que a música mistura-se a sons de animais.

Isso abriu os ouvidos de músicos brasileiros, sobretudo dos dois maestros ligados ao pessoal da tropicália: Julio Medaglia e Rogério Duprat, este falecido em 2006. Medaglia fez o arranjo de Tropicália, de Caetano Veloso, um dos hinos do movimento. Logo no início da canção, é possível perceber a colagem de instrumentos de percussão, barulhos da selva e a leitura da carta de Pero Vaz de Caminha como se fosse uma representação da (re)descoberta do Brasil em plena ditadura militar.
Duprat foi o responsável pelos arranjos e gravações do disco-manifesto coletivo Tropicália ou Panis et Circencis, de 1968, e abusou da criatividade. Dois exemplos são interessantes: em Panis et circenses, a “paisagem sonora” de uma sala de jantar fica explícita em meio aos instrumentos, e em Parque industrial, aparecem os sons de pessoas gritando num parque fictício.

Mas, as colagens não se dão apenas com sons não usuais. Neste disco, há músicas cujo arranjo instrumental trabalha citações e paródias sonoras. É o caso de Geléia geral, outra canção representativa do tropicalismo. Nela, há trechos em que instrumentos de sopro tocam pequenos pedaços de melodias de Carlos Gomes e de Frank Sinatra, exatamente quando na letra são citadas informações sobre nacionalismo e antropofagia. O resultado é um conjunto de sons de várias origens que, pela mistura, ganham novos sentidos.

Um comentário:

  1. eu quero saber como se faz colagem musical mais nao mostra que raiva

    ResponderExcluir